Beatriz era um anjo. Com dezessete anos ninguém nunca soubera que já tivesse namorado. Vivia para a casa e os estudos. Era pra casar, como diziam as tias mais carolas.
Acontece que em contraste ao seu perfil cândido, só se interessavam por ela os tipos mais ordinários, dentre os quais se destacavam os casados, que, sem nenhum pudor em esconder seu estado civil, propunham a ela as aventuras mais inconfessáveis. Escandalizada, Beatriz os rechaçava e em síntese impetuosa declarava às colegas:
– Homem nenhum presta!
Beatriz foi um brinco para o encontro, carregando nos olhos o brilho da esperança de ter encontrado um rapaz direito. Quando chegou, Praxedes já a esperava, as mãos pousadas sobre a mesa, uma sobre a outra. Mal ela sentou, o rapaz começa:
– Preciso te contar uma coisa.
– O quê?
– Eu gosto de ti.
Beatriz aliviada com as palavras, suspirou.
– Mas sou casado.
Atônita com a revelação, confirmada quando o rapaz levantou as mãos e mostrou a aliança, conseguiu apenas dizer:
–Você também...?
– Pois é.
Mas a despeito dos seus estudos, Praxedes era como os outros e começou a ladainha para conquistar a pequena. Dizia que aquilo era apenas um detalhe, que o importante era o amor e que nada ia os impedir de ficar juntos. Desfiou, enfim, toda a cartilha que convém a um canalha. Beatriz, porém, apenas balançava a cabeça, irredutível:
– Não. Assim não dá. Assim não quero.
Praxedes insistia:
– Pense pelo lado bom, pelo menos eu não estou mentindo pra você. Nosso amor vai ser construído com a verdade.
Ao que ele completava suas palavras, Beatriz foi tomada por um acesso de fúria. Um sentimento profundo, reprimido, veio à tona naquele momento. Incontrolada, começou a esbravejar:
– Então é assim, não é? Pra mim, ninguém nunca mente! Pra mim, todos dizem a verdade! Pois eu quero que você minta pra mim. Só a mulher amada é enganada! Só a mulher amada é protegida com a mentira pelo seu homem, pra que não sofra com suas verdades. Pois eu quero que você minta pra mim! Só assim você vai provar que me ama.
Praxedes, sem reação, sentiu apenas Beatriz se lançar ofegante em seus braços, balbuciando entre beijos:
– Minta pra mim, meu amor. Minta pra mim.
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