domingo, 22 de março de 2015

O Crime do Padre Amaro, obra do escritor português Eça de Queiroz


              

                         RESUMO DO LIVRO

O Crime do Padre Amaro, obra do escritor português Eça de Queiroz publicada em 1875 faz, através de sua narrativa, uma direta crítica à vida hipócrita do clero e da sociedade burguesa.
Após a morte do pároco José Miguéis, foi transferido para Leiria um padre jovem chamado Amaro Vieira. Aconselhado pelo cônego Dias, seu mestre de moral no seminário, Amaro foi instalar-se na casa da D. Joaneira. À noite na casa, havia encontros entre beatos e o clero, marcados por jantares, músicas, conversas, jogos e discussões sobre fé. É nesse cenário que padre Amaro encanta-se por Amélia, uma jovem muito bonita e passam a trocar olhares, despertando o ciúme de João Eduardo, noivo da moça.
O narrador, através de uma retrospectiva, conta que Amaro ingressou no seminário aos 15 anos, por obediência a sua tia que lhe criara com os preceitos cristãos. Porém, não era esse o seu desejo. Desejava mesmo era estar com uma mulher, chegando até associar a imagem de Nossa Senhora a uma, sentindo desejo por ela. Sendo assim, não por vocação e mais por comodismo, Amaro tornara-se padre. Em Leiria, rezava missas por costume, mas seu pensamento e sua ocupação era Amélia. 
O primeiro contato físico entre o casal aconteceu numa fazenda da família; Amaro beijou o pescoço de Amélia, e ela saiu correndo. Amaro, com receio de se envolver mais intimamente e todos descobrirem, resolveu se mudar para outra casa. Enciumado pelas visitas de padre Amaro, o então noivo de Amélia escreveu o comunicado “Os modernos fariseus”, onde fez várias acusações contra os padres, inclusive mencionou que o padre Amaro estaria se envolvendo com uma “donzela inexperiente”. Após isso, o pároco aconselhou que Amélia desfizesse seu noivado, pois João Eduardo não seria digno. João Eduardo fica sem emprego e, revoltado, dá um soco no jovem padre.
Amaro volta a frequentar as reuniões na casa de D. Joaneira e se aproximar de Amélia, sem os olhos enciumados de João Eduardo. Numa oportunidade, voltando de uma visita à casa do cônego que estava doente, os dois param na casa do padre e tem ali sua primeira noite de amor. Dionísia, criada, aconselha ao padre a se encontrar com a jovem na casa do sineiro, onde seria mais discreto. Para o sineiro Tio Esguelhas, Amaro disse que Amélia queria se tornar freira e que ele iria ajuda-la nessa missão. Para a família, Amélia iria ajudar a Totó nas lições religiosas. Os dois passam então a se encontrar várias vezes na semana. Ela começa a sentir-se culpada, mas não recusa o padre. Amélia acaba ficando grávida. Aconselhado pelo cônego, a primeira saída seria casa-la com João Eduardo. Este, porém, tinha vindo para o Brasil. A alternativa é então mandar Amélia junto a D. Josefa, que estava doente, ao interior até chegar a hora do parto. Quando a hora chegou, Amaro entregou a criança a uma família que tem a fama de matar as crianças que lhe são entregues. E a criança realmente morre. Amélia não suporta ficar longe do filho, acaba também por morrer. Padre Amaro, sem saber o que fazer e tentando fugir dos acontecimentos, muda-se da cidade. Depois de algum tempo, encontra-se casualmente com o cônego Dias e afirma que “tudo passa”.

CONTEXTO

Sobre o autor 
José Maria de Eça de Queirós nasceu em 1845, em Portugal. É considerado um dos mais importantes escritores portugueses. Quando criança, ficou internado num colégio da cidade do porto. Quando adulto, formou-se em Direito, e além de advogado, foi também jornalista. Em sua época, foi o primeiro grande escritor português a conquistar reconhecimento internacional.
Importância do livro
O Crime do Padre Amaro é a maior obra do escritor Eça de Queirós. Sua publicação marca o início do Realismo português e é considerada por muitos a melhor obra do movimento.  Devido a denúncia de corrupção dos membros da igreja e a discussão sobre a quebra do celibato, sofreu perseguições da Igreja Católica. 
Período histórico
Na segunda metade do século XIX, Portugal passava por grandes transformações; não apenas sociais, mas também filosóficas. Eça teve assim uma grande influência do positivismo de Conte. No literário, o social passa a ser discutido, analisado, deixando de lado a visão romântica voltada para o eu. O principal, agora, passa a ser a discussão dos problemas sociais.

ANÁLISE

O narrador da obra é pronunciado em terceira pessoa e onisciente. Ou seja, ele conhece o sentimento e as ações dos personagens da trama em seu íntimo. É capaz de dizer o que estão sentindo e pensando os personagens de acordo com os acontecimentos. O narrador nessa obra chega até a impor qualidades ao clero e às beatas através de adjetivos muitas vezes rudes, como é o caso de Ruça, que era denominada pelo narrador como “idiota”.  
Deixando de lado os chamados de “romances de entretenimento”, que se baseavam em discutir questões pessoais e amores subjetivos, surgem os chamados “romances de tese”, pertencendo ao movimento do Realismo, como é o caso do livro O Crime do Padre Amaro. Sendo assim, a obra põe em questão discussões políticas e sociais, como o atrelamento entre os interesses do clero e o envolvimento político. Por exemplo, Amaro conseguiu a transferência para Leiria por indicação da condessa de Ribamar, filha da senhora que cuidou dele quando criança. A obra, influenciada também pelo naturalismo, revela que os modelos comportamentais são justificados em sua maior parte pelo meio. Assim, todo comportamento tem um motivo. Padre Amaro, ao se deixar levar por desejos carnais e quebrar o celibato, estava correspondendo ao meio em que vive, já que descobriu que seu antigo mestre também tinha um caso secreto. Além disso, o instinto sexual era algo intrínseco ao ser humano, com isso, pertencente aos padres, inclusive.
Sendo assim, padre Amaro não é visto no livro como um culpado, e sim como um sujeito que não possui escolhas. Por exemplo, ele não tinha escolha em relação à entrada no seminário; era um pedido, senão uma ordem, de sua tia. Respondendo aos seus instintos que desde criança já afloravam juntos a suas amas de criação e que perpetuava até no seminário, ele não tinha alternativa a não ser se envolver com uma jovem tão bonita como Amélia. Ele é sujeito do meio em que vive. Quando Amaro entrega a criança a uma “tecedeira de anjos”, sabendo que a criança tinha muitas chances de morrer, ele não tinha outra escolha, segundo sua visão. Mesmo após se arrepender e tentar recuperar a criança retornando à casa, ao se deparar que tudo já estava feito, o arrependimento torna-se momentâneo, passando com o decorrer do tempo.

PERSONAGENS

Amaro: Personagem principal que tem seu nome no título do livro. Vai pro seminário aos 15 anos, a mando de sua tia. Acostuma-se com a vida de padre pelas facilidades e pelo status. Envolve-se com Amélia.
Amélia: moça de família com 24 anos. Era noiva de João Eduardo. Porém, apaixona-se pelo padre Amaro, mantendo o relacionamento em segredo. Fica grávida, e após o nascimento do filho, tiram ele dela. Não suportando, Amélia falece.
Cônego Dias: mestre de moral e Amaro, no seminário. Possui um relacionamento secreto com D. Joaneira. Descobre a relação de Amélia com Amaro e ajuda a Amaro a buscar soluções para esconder a gravidez de Amélia.
D. Joaneira: mãe de Amélia, tem uma relação com o cônego Dias. Hospeda o padre Amaro em sua pensão.
D. Josefa: irmã do cônego Dias. Fez Amélia desistir do casamento com João Eduardo por ele ser um herege. Ao ficar doente, vai com a Amélia grávida para o interior, acreditando que Amélia estaria grávida de um homem casado.
Ruça: era criada na casa de D. Joaneira.
Libaninho: beato que fazia muitas fofocas.
Dr. Godinho: dono do jornal que João Eduardo publicou seu comunicado.
Dr. Gouveia: médico respeitado na cidade. Cuidou de Amélia desde criança e, quando ela ficou grávida, ajudou no seu parto.
Dionísia: criada de Amaro. Descobre o envolvendo dos dois e acoberta. Ajuda na hora do parto de Amélia e dá ideias para o padre Amaro com quem deixar a criança.
Tio Esgelhas: sineiro. É o dono da casa onde Amélia e Amaro se encontravam. Pai de Totó.
Totó: paralítica que Amélia fingia que lhe ensinava. Odiava Amélia e era apaixonada não declaradamente por Amaro.

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