quarta-feira, 15 de abril de 2015

Os loucos são de proveniência mais diversa...

“Os loucos são de proveniência mais diversa. São os negros roceiros,
copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais”
  Escritor carioca Lima Barreto (1881-1922) num prontuário hospitalar datado de 18 de agosto de 1914.
...um medo, sem razão nem explicação, de uma catástrofe doméstica sempre presente.
MANICÔMIO
Corredor do Hospício Nacional dos Alienados, no Rio
Relativo à primeira internação do autor do romance “O Triste Fim de Policarpo Quaresma” está sendo publicado pela primeira vez na reedição de luxo dos seus livros “Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos” (Cosac Naify).
 O diário reúne as impressões de Lima Barreto sobre os dois meses que passou no Hospício Nacional dos Alienados no Rio de Janeiro, entre dezembro de 1919 e fevereiro de 1920. A segunda obra, uma novela inacabada, trata em forma de ficção, das mesmas experiências vividas por ele nessa instituição manicomial. 


Leia um trecho do primeiro capítulo do livro,  Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos :
A MINHA BEBEDEIRA E A MINHA LOUCURA
Ao pegar agora no lápis para explicar bem estas notas que vou escrevendo no Hospício, cercado de delirantes cujos delírios mal compreendo, nessa incoerência verbal de manicômio, em que um diz isto, outro diz aquilo, e que, parecendo conversarem, as ideias e o sentido das frases de cada um dos interlocutores vão cada qual para o seu lado, eu me lembro muito bem que um amigo de minha família, médico ele mesmo de loucos,27 me deu, logo ao adoecer meu pai, o livro de Maudsley, O crime e a loucura.28 A obra me impressionou muito e de há muito premedito repetir-lhe a leitura. Saído dela, escrevi um decálogo para o governo da minha vida; entre os seus artigos havia o mandamento de não beber alcoólicos, coisa aconselhada por Maudsley, para evitar a loucura. Nunca o cumpri e fiz mal. Muitas causas influíram para que viesse a beber; mas, de todas elas, foi um sentimento ou pressentimento, um medo, sem razão nem explicação, de uma catástrofe doméstica sempre presente. Adivinhava a morte de meu pai e eu sem dinheiro para enterrá-lo; previa moléstias com tratamento caro e eu sem recursos; amedrontava-me com uma demissão e eu sem fortes conhecimentos que me arranjassem colocação condigna com a minha instrução; e eu me aborrecia e procurava distrair-me, ficar na cidade, avançar pela noite adentro; e assim conheci o chopp, o whisky, as noitadas, amanhecendo na casa deste ou daquele.
Fonte:www.istoe.com.br





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